Patriarca Yiling Capitulo 3

_ Você capturou um soldado, Wei Wuxian?_ seu tom era como o de uma mãe brava com o filho bagunceiro e o capitão, o qual Lan Wangji finalmente descobrira a identidade, levantou as mãos em um sinal debochado de rendição. 

_Eu não fiz nada, ele que invadiu meu quarto e apontou uma espada para meu pescoço. Eu sou a unica vitima aqui!

Lan Wangji se sentiu extremamente ofendido, afinal, quem havia saqueado seu navio e nocauteado seus homem em primeiro lugar, havia sido o ser de preto ao seu lado, que havia o arrastado por vários corredores do navio como se estivesse em um passeio em um parque, saltitando como se Wangji não houvesse colocado acabado de colocar uma espada em seu pescoço, e falando com sigo como se não houvesse acabado de acabar com o festival de inverno daquele ano. Porém estando em uma situação delicada como a que estava, Lan Wangji sabia que a melhor opção que tinha seria permanecer quieto. 

_O que vai fazer com ele?_ foi tudo o que ela perguntou, depois de abaixar as pequenas agulhas, mas ainda transmitindo uma aura severa e ameaçadora. Se Wangji fosse honesto consigo mesmo, diria que ela parecia cansada demais para se aprofundar no assunto em questão, como se o fato dele estar ali não valesse o seu tempo.

_ Estava pensando em deixar ele na próxima cidade que pararmos _ comentou como se estivesse meramente falando sobre como hoje o dia estava frio,e se apoiou em uma das paredes do local e se afastando um pouco de Lan Wangji. 

Se sentindo mais confortável, Lan Wangji pode dar uma olhada ao redor, reparando que embora aquela fosse supostamente uma ala hospitalar, havia apenas um leito em um canto escondido por uma cortina branca, já o resto da sala estava repleto de mesas, papéis, estantes e livros, quase como o quarto do chamado Wei Wuxian, apenas muito mais organizado. Definitivamente não parecia uma área hospitalar adequada para atender um navio inteiro. Lan Wangji então se lembrou de que não esbarraram em uma única pessoa o caminho inteiro, não só isso como os corredores estavam em completo silêncio no momento em que estava sendo arrastado de um cômodo para outro. Wangji então ponderou sobre todos aqueles soldados vestidos de preto. 

_E até lá, o que pensa em fazer com ele? O calabouço não é exatamente o melhor lugar para colocá-lo_ Lan Wangji imediatamente pensou que, para qualquer pessoa normal, o calabouço seria a primeira opção de para onde enviá-lo, é claro, se não escolhessem matá-lo. Por isso se sentiu um tanto confuso, mas ninguém pareceu perceber, ou se perceberam, não se deram ao trabalho de explicar. 

_ Na realidade eu vim aqui justamente por isso. Eu não sei o que fazer, estava esperando que você pudesse me ajudar _ comentou enquanto coçava a cabeça e sorria de lado, não parecendo nenhum pouco timido. 

_ Não é problema meu, se vire _ foi tudo que ela disse para o capitão, que logo fez colocou um beiço na cara, como uma criança birrenta _ E deixe-o longe de Wen Ning. 

_Mas não é você que diz que eu tenho que descansar? Como eu vou descansar se tenho que cuidar de um prisioneiro?

_ Ele não é um prisioneiro, é um invasor. E se ele não te matou quando estava com a espada apontada para seu pescoço, não vai matar depois. Você pode muito bem ir dormir e trancá-lo em uma sala qualquer.  

Wei Wuxian suspirou e levantou as mãos para o alto mais uma vez, em rendição, agarrou novamente o braço do soldado de branco e o arrastou de volta pelos corredores, parou em frente a uma porta próxima ao seu quarto e o puxou para dentro. Era um quarto espaçoso até, com algumas pequenas janelas nas laterais e alguns colchonetes dobrados em um canto, mas fora isso não havia mais nada além de uma outra pequena porta em um canto. 

_Eu sei que para um almofadinhas como você deve ser revoltante ficar por aqui, mas você veio aqui por livre e espontânea vontade _ ele comentou com um tom de deboche que às vezes acreditava que já estava intrínseco ao seu ser,  andou até os colchonetes, estendeu um deles no chão e deu dois tapinhas _ Sinta-se a vontade. 

Lan Wangji não respondeu, e Wei Wuxian suspirou derrotado. Queria extrair alguma reação do homem à sua frente, mas ele continuava estoico e rígido, não importa o que faça. Pensou em persistir mais um pouco, afinal, embora fosse um ato meio arrogante de sua parte, adorava mexer com o ego das pessoas e deixá-las irritadas era seu talento natural, mas realmente precisava descansar, e para isso precisaria deitar sob suas cobertas e dormir. Por isso se levantou e foi em direção a porta, na esperança de ir para seu quarto, mas o stoico Lan o parou antes. 

_Por que simplesmente não acabar comigo?

Wei Wuxian se virou para ele  e sorriu, como se estivesse falando com um velho conhecido. 

_Eu já falei _ ele cruzou os braços sobre o peito e deixou a cabeça cair para o lado enquanto o encarava _ Eu sou um ladrão, não um assassino cruel. 

O homem de branco o encarou por alguns segundos, e Wei Wuxian achou que ele não iria falar mais nada, porém antes que pudesse se virar ele falou outra vez. 

_ Esse quarto não é nem de perto tão seguro quanto um calabouço, eu consigo sentir que não existem selos ou talismãs nas paredes ou portas. 

Wei Wuxian esperava que ele continuasse a falar, mas a frase morreu ali, sem elaborações mais profundas. 

_ Você não me atacaria. 

_Por que? 

Wei Wuxian ponderou por alguns segundos se deveria responder ou não, enquanto encarava o rosto pálido daquele Lan. Como sempre eles se aproveitavam da boa genética, mas só pela coluna perfeitamente reta que os princípios e regras também haviam sido herdados por aquele homem. Se fosse definir os Lans em poucas palavras, diria que eles eram rígidos e insensíveis em seu melhor, e cruéis no pior. 

_ Porque mesmo sendo um Lan, você é um nobre. 

Lan Wangji não falou nada, mas Wei Wuxian continuou com sua explicação da mesma forma:

_ Você é um nobre, você não desperdiçaria sua vida com um mero navio de mantimentos. 

Wei Wuxian então se virou e saiu, fechando a porta do quarto e deixando Lan Wangji sozinho no quarto. Embora não tenha falado mais nada, o príncipe sabia que existia uma mensagem escondida naquilo que ele havia falado. Algo na linha de pensamento onde um navio de mantimentos não vale a vida de um nobre, mas vale a vida de uma pessoa comum. 

Pensativo, ele foi até a pequena porta no quarto, confirmando sua suspeitas de que era um pequeno banheiro. Fez suas necessidades e voltou para o quarto onde se deitou no colchonete, que definitivamente não chegava nem perto do colchão em que havia dormido naqueles dias no navio branco, muito mesmo se comparava ao colchão em que dormia todos os dias no palácio. Ele não pretendia dormir, embora o Patriarca, que descobrira se chamar Wei Wuxian, houvesse declarado abertamente que não pretendia lhe matar, não se sentia convencido o suficiente para acreditar nas palavras dele. Olhando para o teto, começou a recapitular as informações que havia aprendido naquele dia.

Ficou repassando as informações por algum tempo, tentando estabelecer conexões lógicas entre um ponto e outro. Primeiro: haviam dois Wens naquele navio e sabia que supostamente eles deveriam ter sido todos mortos ou capturados durante a Campanha da Queda do Sol. Essa informação apenas não o chocou tanto, porque honestamente sabia que uma ou outra família deveriam ter conseguido fugir em meio ao caos. Porém o Patriarca não era um Wen, e o seu sobrenome não pertencia a nenhuma grande seita. De fato, ele parecia ter algum problema com tais seitas, ou talvez meramente com os nobres provenientes das mesmas. E, é claro, ele era de fato um omega. Um lobo doente e solitário. Isso colocou Wangji para pensar: teria ele sido expulso, ou toda sua família teria falecido? Seria aquela mulher na ala médica a responsável por manter ele vivo por tanto tempo. Ficou divagando por algum tempo até que escutou a porta se abrir mais uma vez, revelando novamente o Patriarca, porém agora este estava descabelado, vestindo apenas os robes internos, com a cara amassada e os olhos pesados. Ele obviamente havia acordado a pouco tempo e estava preso em um estado em que era difícil dizer se ele estava dormindo ou acordado.  Ele não parecia sequer entender o que estava fazendo enquanto andava em passos cambaleantes na direção do colchonete em que Lan Wangji estava, com uma tecido felpudo em mãos. De fato ele não parecia nem sequer perceber que seu convidado estava acordado. Lan Wangji pensou se esse não seria mais uma oportunidade ideal para atacá-lo, mas embora o que ele tenha lhe falado tivesse algum tipo profundo de crítica, realmente não valia a pena acabar com sua própria vida por bens materiais, por isso permaneceu quieto, com a espada no chão ao seu lado, a menos de 10 centímetros de distancia de sua mão caso fosse necessário. 

Wei Wuxian caminhou até ele, e de fato, não tinha lá muita consciência do que estava fazendo. Apenas havia acordado durante a noite depois que seu subconsciente subitamente o lembrou que havia esquecido de entregar uma coberta para o seu convidado, e embora ele estivesse usando uma capa felpuda que apenas alguém da realeza teria dinheiro para comprar, estavam quase chegando na queda da primeira neve. Por isso se arrastou aos tropeços até o baú onde guardava os cobertores, pegou um aleatoriamente e foi até o quarto do Nobre Lan, andou até onde ele estava e o encobriu com o cobertor, não percebendo que ele estava acordado, muito menos que ele prendeu sua respiração enquanto o cobria até o pescoço. Bocejando, se levantou e foi embora.