Patriarca Yiling Capitulo 1 (piratas)

Wangji respirou fundo, o coração bombardeava com força no peito, mas seu rosto era inexpressivo como sempre. Seus olhos estavam focados no ponto preto que surgira na linha do horizonte e se aproximava com velocidade absurda. Atrás de si servos e soldados se colocavam em posição, assustados com o perigo iminente. O patriarca estava vindo, mais rápido do que qualquer embarcação deveria ser capaz de ir. Um servo perguntou aos berros se queria que mudassem a rota, enquanto corria pelo convés. Wanji apenas levantou a mão, avisando que manteriam sua rota original, afinal, mesmo que mudasse a rota e seguissem pelo mar do leste, além de enfrentarem mares muito mais perigosos, ainda seriam alcançados de qualquer forma pela embarcação negra e vermelha que se aproximava cada vez mais. Eles iriam ficar e lutar.

Afinal, não era como se não esperasse aquilo. O patriarca vinha atacando grandes embarcações destinadas ao palácio já havia algum tempo, sempre saqueando enormes quantidades de alimento e despojos. Compor  o grande festival de inverno e para o banquete que seria oferecido no palácio naquele mês, estavam preparados para a possibilidade dele atacar mais uma vez. Wangji, príncipe de Gusu e segundo na linha de sucessão depois do atual rei, havia deixado o conforto de seu castelo única e exclusivamente para lidar com o patriarca Yiling caso não conseguissem evitá-lo ou escapar de suas garras. Era o melhor soldado e cultivador em todo o reino, se ele não fosse páreo para o patriarca, então ninguém mais seria. 

Quando o navio chegou perto o suficiente da embarcação branca, Wanji entendeu o porquê de sua grande velocidade. Sob a água escura e revolta do mar de inverno, era difícil enxergar, mas às vezes, entre o intervalo entre o choque de uma onda e outra no convés, era possível ver inúmeros pares de mãos brancas feito a morte prensadas contra o casco escuro. Wanji conseguiu ver algumas poucas, mas sabia que deveria haver mais, provavelmente milhares sob a água, impulsionando o navio e ajudando-o a pegar velocidade. Wanji franziu as sobrancelhas. Como diabos o patriarca controlava aqueles seres demoníacos? Imediatamente descartou a ideia de bombardear o navio, sereias eram seres extremamente resistentes e tinha a impressão de que se utilizasse bolas de canhão contra o outro navio elas imediatamente começariam a pular e agarrar as bolas de chumbo. 

Da mesma forma, sabia que o navio em que estava não seria bombardeado, já que segundo boatos dos tripulantes que sobreviveram aos últimos saqueamentos e é claro, ao estado do navio _ o patriarca não era necessariamente um assassino de sangue frio, se ele conseguisse botar suas mãos na mercadoria que estivesse sendo transportada, ele não dava a mínima para quem ficasse vivo ou morto. Por isso apenas esperou que o navio estivesse perto o suficiente para dizer para sua tripulação: 

_ Vamos duelar no convés. 

Alguns segundos depois, o navio do patriarca estava próximo o suficiente para que inúmeros soldados de preto invadiram o convés, logo entrando em combate com a tripulação de branco. Laan Wanji arregalou os olhos levemente quando uma figura de vestes vermelhas saltou para o centro.Era um ômega, o Patriarca Yiling era um ômega de fato. Aquilo o deixou brevemente chocado, mas não o suficiente para que se distrai-se. Imediatamente retirou a espada das costas e avançou em direção ao patriarca, que tinha seu rosto coberto por um véu preto. 

Ele era bom, muito bom. Bom ao ponto em que Lan wanji não sabia se seria capaz de ganhar em um duelo de um para um. Rapidamente desviou sua atenção para olhar o cenário ao seu redor e sentiu o coração afundar, embora estivesse par a par com o Patriarca, não poderia dizer o mesmo de seus soldados que lutavam contra os soldados de preto, estavam perdendo de maneira humilhante. Voltou a focar na pessoa a sua frente, mas assim que o fez percebeu que dois soldados se preto o haviam se juntado a figura de vestes vermelhas. Não era uma luta muito justa, mas estava lutando contra um pirata afinal de contas. Lan Wanji conseguiu resistir por algum tempo, mas embora lutasse de igual para igual com o patriarca, não era capaz de lutar contra ele e mais dois soldados de alto nível, em poucos segundos se encontrava no chão. O patriarca se erguia imponente em sua frente, ao seu redor, praticamente todos os soldados se encontrava rendidos no chão, embora, por algum milagre, a maioria estivesse vivo. 

_Eu estou realmente surpreso _ o Patriarca comentou enquanto batia palmas lentamente a sua frente, de forma irônica. Mas Wanji não se importou com a zombaria do inimigo, mais focado na fraca voz do homem à sua frente. Era definitivamente a voz de um omega_ É a primeira vez que eu encontro alguém tão forte. 

Wanji não respondeu a provocação e o Patriarca moveu levemente a cabeça para o lado enquanto esperava. Depois de alguns segundos ele soltou um assobio longo e mais soldados saltaram para a embarcação branca. 

_ Peguem todos os alimentos e tecidos, se vocês acharem que encontraram algum armamento tragam até mim, de resto se não for alimento ou tecido podem deixar. 

Assim que terminou de falar, os soldados prontamente foram invadindo as cabines em busca de despojos. Pranchas foram estendidas entre os navios, possibilitando que os soldados transitam facilmente entre um navio e outro com as caixas de alimentos e sacolas de tecido branco que seriam utilizados para enfeitar a área central de Gusu durante o festival de inverno. 

Lan Wanji se sentia incrivelmente humilhado e desrespeitado. Aquilo não era meramente uma perda de bens materiais, aquilo provavelmente acabaria com o festival. Havia se dado ao trabalho de ir até a cidade do sol buscar aquela mercadoria, já que o Recanto das Nuvens não focaram na produção de alimentos e sim no desenvolvimento militar, sempre que tinha algum festival ou banquete, eles precisavam fazer negócios com outros reinos para conseguir o necessário. Tecidos tão meticulosamente bordados eram outra coisa que as mãos dos tecelões e costureiros de Gusu eram incapazes de fazer com a mesma maestria que algumas cidades ao sul. Era frustrante, e Wagji honestamente não conseguia entender qual era o objetivo do ser em sua frente, o que um pirata poderia querer com alimentos e tecidos? Essa foi uma pergunta que sempre esteve presente em sua mente quando o assunto eram os saques do Patriarca Yiling, que atacava navios de tecido, de ervas e de grãos , mas pareciam ter pouco interesse em navios de armamento. 

Por um momento a resposta que parecia mais convincente era de que fossem piratas de um reino bárbaro, brutos demais e de costumes controversos, preguiçosos demais para explorar a própria agricultura de onde quer que tenham vindo, mas olhando para forma que se vestiam, e pela sotaque perfeito de Gusu, Wangji descartou completamente essa ideia. Ao mesmo tempo, Wangji percebeu, ao se tocar que ninguém nunca havia relatado sobre o fato do Patriarca falar a língua do reino, que aquela era, provavelmente, a primeira vez em que os soldados de Gusu o escutavam falar. 

_De onde você é? _ Teve a audácia de perguntar, ainda com o rosto inexpressivo, mesmo que estivesse de joelhos e com uma espada encostada no pescoço. 

O patriarca soltou uma risada soprada e presunçosa, como se estivesse muito indignado com a pergunta. 

_ Eu duvido que um soldado de alto-escalão como você não tenha recebido essas informações _ o Patriarca deixou a cabeça cair levemente para o outro lado_  A não ser que…

Antes que qualquer um pudesse reagir o Patriarca se aproximou, puxou levemente o roupão do outro para revelar a pequena nuvem marcada no ombro, e logo depois o colocou de volta no lugar.  

_ Membro da realeza,  mas baixo demais na hierarquia para receber informações confidenciais. 

Wangji ficou levemente confuso. Ele era literalmente o segundo na sucessão do trono, embora é claro, o Patriarca não soubesse disso. Sua curiosidade automaticamente aumentou. Estaria seu próprio reino escondendo alguma coisa de si ou o jovem de vermelho estava apenas brincando consigo? Por um segundo pensou nos velhos anciãos e conselheiros no pavilhão central, antiquados e conservadores ao extremo e ponderou se eles teriam sido capazes de lhe esconder informações sobre o Patriarca, mesmo tendo o dever de supostamente o combater caso ele e sua tripulação atacassem. Imediatamente sentiu o sangue gelar quando percebeu que aquela era uma possibilidade a ser considerada. 

_ Não pense demais sobre isso _ comentou o patriarca, parecendo notar alguma coisa em sua expressão _  já estamos de saída. 

E assim como vieram, os soldados de preto, depois de terem arrastados cargas e mais cargas pelas pranchas de madeira, saltaram em direção ao outro navio, deixando soldados desmaiados e incapacitados e um príncipe extremamente humilhado no convés exposto ao vento gelado do inverno. O Patriarca se foi junto com eles, o manto vermelho sacudindo e logo desaparecendo no convés. Eles não esperaram nem um segundo a mais ou a menos e logo o navio, que não havia parado de se mover, mas que momentaneamente havia navegado de igual para igual com o navio do reino, começou a ganhar velocidade. 

Wangji se decidiu em milésimos de segundo, agarrou um soldado que estava perto de si, abraçando uma das pernas que parecia estar quebrada.

_ Voltem para Gusu, eu vou atrás o Patriarca. 

Sem esperar por uma resposta, Wangji se levantou, correu em direção a proa, desviando de soldados abatidos e ensanguentados, e usou a mesma para se impulsionar em direção a traseira do outro navio  agarrando a popa  do navio, formada por duas sacadas tenebrosas., já que o mesmo já havia avançado bastante em poucos segundos. Não haviam soldados naquela parte do navio, e honestamente duvidava que eles suspeitaram que alguém tentasse invadir sozinho, não se importando com o navio branco que desaparecia. Aproveitou que a estava vazio e deslizou da grade de proteção da sacada de cima para a de baixo, mais próxima da água. Ele deu um último olhar ao mar tempestuoso e olhou pela pequena janela no centro da porta de madeira. Um quarto escuro como todo o navio, porém enfeitado de tecidos vermelhos, e repleto de bugigangas e pergaminhos espalhados em cantos diversos. Wangji esperou alguns segundos, para ter certeza de que ninguém apareceria, e entrou no quarto.